15 de novembro de 2011

Pensamento crítico e números anônimos.


     Quem ainda não sabe, até o fim deste ano ao menos, sou professor de matemática de ensino fundamental. Minhas idéias sobre o currículo da escola difere do que penso ser realmente importante. Por exemplo, não houve quem discordasse que é importante saber o perigo do crediário. O problema se dá quando a disciplina é a grande responsável pela desaprovação. O vulgar "rodar de ano". Na minha concepção, o ciclo é o que há de mais próximo do desenvolvimento. 

     Tenho um aluno que, como eu digo, é um balão murcho. É como se fosse um homem miniatura que apenas irá inflar e tornar-se um homem. Colocou piercing no lábio inferior com o auxílio de uma bebida alcoólica e uma batata, segundo ele. Durante um dos testes aplicados, não respondeu aos estímulos. Ou seja, não soube abstrair as informações importantes de alguns dos problemas propostos. Estamos criando uma geração de pessoas que não sabe ler, muito menos interpretar.




Sene- Sene- Sene- Sene- Senegâmbia
     "A Senegâmbia, confederação formada em 1982 entre Senegal e Gâmbia, dois países africanos vizinhos, continha aproximadamente 208.005 km². Quando foi dissolvida em 1989, os dois países voltaram ao formato original. Sabendo que Gâmbia ocupava apenas um quinze avos da extensão territorial da confederação, calcule: a) A extensão territorial do Senegal; b) A extensão terrotorial da Gâmbia."




     Apesar de aparentemente complexo, é uma operação simples disfarçada. Meus alunos já entraram em contato com números maiores do que centenas de milhares, frações de quantidades e espaços, sistema métrico internacional e frações de denominadores até 25. Apesar de que pode parecer para um leitor sonolento que a solução é impossível, tenho certeza que durante uns três anos de sua vida no ensino fundamental, fizeste coisas semelhantes só que anônimas. Não existiam países se dividindo. Apenas números sem sentido.


DANGER!
     Uma pessoa cautelosa o suficiente para provocar uma lesão em uma área sensível e vascularizada como os lábios, com pouco mais de uma década de vida, é muito capaz de não entender exatamente o seu papel na sociedade. Dificilmente será capaz de não se deixar enganar por pesquisas eleitorais maldosamente inexplicados, por vendedores que podem invadir sua área e provar que mesmo sem completar um salário mínimo, pode contrair dívidas exorbitantes (desde que pague a entrada). Outros fatores pesam contra ele. O futuro não é deste. Infelizmente.



     Números sem nomes não existem. Grandezas abstratas não tem função social, senão a lúdica. Toda evolução científica que pode ser representada pela matemática, se não tem nome, é batizado de imediato. Eu pessoalmente chamo os números de nomes e seus atributos como sobrenomes. Oito quilômetros quadrados, sete litros, trinta newtons. Vivemos em um momento onde saber fazer quatorze quintos de duzentos e oito mil e cinco não é mais o suficiente. É preciso saber dizer o sobrenome.




     Há lugar para todos no mundo. Apenas que os lugares mais sofridos estão reservados para quem não sabe ser verdadeiramente crítico. Matemática, se absolutamente abstrata, serve para ensinar o pensamento crítico. Furar a boca com um grampo, conhaque e uma batata não parece um procedimento crítico.


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