28 de novembro de 2011

Conto: O último e-mail


     Em um mundo devastado pela guerra, não há muito o que se pode fazer. Não existe mais grandes fontes de energia, pelo que entendi. Afinal, a coisa toda parou por uns dias por causa da falta de energia. Este é o último aparelho existente que funciona. Provavelmente. Digo isso pois ouvi falar que em um lugar distante as coisas ainda tinham uma espécie de reserva de energia. Mas se existe, não é para todos. Talvez ao tal presidente, que tanto falam. Mas em uma situação como a que vivemos, este tipo de coisa não faz sentido. Não há mais o que governar. Fico pensando, se é como diziam, apenas quatro anos de mandato, o deste se encerra em breve. Depois disso, irão expulsá-lo do abrigo? Haverá uma nova eleição?


     Sei que ninguém lerá isso. Afinal este disco rígido não ficará muito tempo funcional, principalmente por não haver mais corrente nas tomadas que sobraram. Encaro isso como uma despedida. Amanhã andaremos até o litoral. Sim, até isso mudou, sabe-se lá como. As coisas mudam, precisamos aprender a lidar com isso.


     Creio que esta será a última carta livre digital em anos. Afinal, todas as outras virão de lá. Esta minha é totalmente neutra. Vista dos olhos do que restou do povo. Não podem roubar isso da gente, a nossa perspectiva. Podem nos roubar, abusar, matar mas nunca nos tirarão nossa opinião. Não defendo um suicídio controlado, precisamos fazer tudo que der para sobreviver. 


     Ainda não são todos que podem ler nossa mente, então é apenas fingir, como antigamente. Que saudade de quando fingir era apenas social. Era um mundo diferente onde a sobrevivência da alma dependia da simulação. Hoje é da carne.


     Um amigo disse que conhecia umas pessoas que talvez tivessem conseguido sobreviver, era em um lugar entre as montanhas, onde plantavam e comiam. Vamos procurá-los ainda hoje. Apesar de ser tarde já, precisamos tomar uma atitude. O mundo não é justo.


     Pensando bem, era para ser?


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