2 de novembro de 2011

Da ganância ou "pior do que ser forever alone"


     Conheço uma pessoa que, desde muito cedo, sempre utilizou-se das piores formas de se enriquecer. Ou parecia que procurava isso. Apesar de ter uma vida invejada por muitos, ser personagem de uma das histórias de amor que menos dá certo, este mundo não era o suficiente.


     Somos dotados daquele nosso, maravilhosamente retratado em livros de jogos de interpretação, espírito de insatisfação. Estamos sempre fazendo algo que nos apraza da forma mais eficiente possível. Isto não é errado, afinal se Deus nos fez dessa forma, nada, mais justo do que exercer essa nossa capacidade. A luta começa quando precisamos adaptar essa forma hedonista de vida com alguma profissão. Afinal, poucas pessoas inventam o que querem ser quando crescer enquanto os outros se deformam para se encaixar em uma das alternativas existentes. Então deixamos nosso espírito inquieto trabalhar apenas depois do turno de trabalho.


Você aprendeu bem que isso é
importante.
     A ganância é natural nesse processo. Ela nasce desta nossa tendência a querer sempre um pouco mais. Todos os parâmetros vão subindo conforme vamos chegando próximo deles. Em um mundo empresarial, esta cadeia de pensamento é a regra. Se não for assim será carregado e engolido pelos que são. Quer viver em um mundo empresarial menos competitivo? Se existir, deve ser próximo ao que fazem as ONG's. Se bem que hoje em dia não é mais bem visto quem planeja abrir uma dessas organizações.


     Quando esta pessoa que conheço anunciava sua chegada, sempre era seguida de uma série de questionamentos sobre minhas roupas. Ela trazia peças de vestuário que gentilmente vendia pelo triplo do que comprava. Sim, morei grande parte da minha infância no interior (60 quilômetros de uma capital) e esta criatura acreditava sinceramente que não havia como algum de nós irmos na capital e obter os mesmos produtos pelo preço mais próximo do justo. Mas a viagem demoradíssima da capital (e sua ganância) a cegava ao fato. Triste.


"Um mião na minha mão" [sic]
     O dinheiro hoje representa possibilidade. Muitas pessoas lutam a vida toda para acumular notas sobre notas mas muitas vezes acabam esquecendo o motivo pelo qual começaram. Se a ideia era ter uma casa ou apartamento, não era preciso decidir. Afinal os dois seriam trocados por estes papéis. Ou pela sombra deles, quando envolve transações bancárias. Em cursos de inglês geralmente se trata da diferença entre home e house como se a primeira fosse os pilares afetivos e emocionais que são abrigadas dentro da segunda. A ganância faz com que esqueçamos de quão complexo é a diferença. De quanto não precisamos de nada parecido com que um banco pode produzir para construí-lo. Mas ainda justificamos e inclusive compensamos nossas falhas no lar com dinheiro. Isso é absurdo. E é uma prática cada vez comum.


     A ganância faz crer que todos são gananciosos. Todos estão querendo nos passando para trás o tempo todo. Não têm amigos. Eles se esvaem na primeira oportunidade de arranjar companheiros melhores. Desenvolveram seus aparatos emocionais de forma dissociativa, onde ciúmes é manifestação de amor e não de posse. Que loucura é essa de comparar pessoas como se fossem coisas? 


     Essa pessoa que iniciei o texto mora com o esposo e é eventualmente visitada pelos filhos. Mas todos concordam que o fazem pelo afeto ao pai. Pela mãe, dificilmente moveriam uma palha. Ela nunca passou necessidade, apenas no passado longínquo do qual foi salva por este  homem que a tomou por esposa. Desde então viveu como uma rainha mas nunca reconheceu. O amor é cego? Apesar de não acreditar que auto-ajuda seja tudo aquilo que dizem, uma máxima é real: o que plantamos, colhemos.


     A ganância seca nossas sementes. Monetizamos nossos relacionamentos. Nos envolvemos por dinheiro tão somente. Não há mais santos. Nem aqueles que aparecem na outra face da moeda.



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