17 de novembro de 2011

Economia com o ministro dos sonhos mortos


     Provavelmente faço isso todos os dias. Sento-me perante ao frio aparelho eletrônico e despejo o que estou pensando no momento, procuro imagens relacionadas e contextualizadoras. Faço a borda e as coloco no contorno do texto. Este é um exercício de disciplina. E se acabam as idéias, se durante o dia não se ouviu falar em nada, se a lista de pautas zerar, o que fazer? Escrever sobre a falta de assunto!

     Apesar de na realidade não ter zerado os assuntos de pauta do dia, algumas delas ainda estão em estudo. E sou obrigado a dizer que não tenho tempo para desenvolver parte das janelas abertas em meu navegador. Meu processo criativo para qualquer coisa faz orbitar uma profunda pesquisa em diversas fontes. Um problema é que durante a última pesquisa desenvolvi dois assuntos completos para futuras apresentações na universidade. Logo, tenho pelo menos quatro textos garantidos no futuro. Por isso me permito ficar sem assunto por uns dias.

     Sem assunto mas não sem post. Por muito tempo eu acreditei que o desenvolvimento literário  seria quase místico. O que foi minha surpresa quando deparei-me com a possibilidade de simplesmente sair escrevendo? Sem inspiração, sem motivo claro. Meu objetivo com esta página não é ficar internacionalmente famoso nem ganhar dinheiro. É saber como funciona escrever sobre o que pensa. É desmistificar a lógica e escrita. É mostrar que apesar de ser das exatas, posso soar tão confuso como um cara das humanas. Afinal, essa diferença nem existe. Todos somos confusos. Graças ao caos dentro de nós. Coisa que muitos gostam e se exibem por terem o silenciado.

     Nunca se encerra, não existe falta de assunto. O que pode acontecer é da pessoa não querer falar o que tem pensado. Não querer ouvir o que outro diz. Não querer opinar. Isto é uma violência pessoal. Eu, no momento estou escondendo dos senhores e senhoras a força que faço para esconder uma prática comum no meio docente de magicamente encerrar sua carga horária ao fim do ano. E isso me entristece um pouco.

     A máquina eu conheço. Quando me propus a ocupar uma vaga para lecionar em uma escola do ensino fundamental, sabia que não era o Ministro da Educação, que não poderia neste ponto fazer uma reforma educacional nacional. O trabalho neste nível é apenas evitar mostrar os furos do sistema. Mas me permito ficar triste com isso. E isso é bom. Como ouvi mais de uma vez da mesma pessoa, essa perspectiva de hoje será fundamental no dia que eu ocupar a pasta.

     Lembro quando ainda no ensino médio, fizemos uma técnica de grupo onde devíamos dizer o que pretendíamos como futuros profissionais da educação, já que a modalidade era Curso Normal. Enquanto minhas colegas diziam que gostariam de fazer a diferença em escolas do interior, disseminar o prazer da leitura, acompanhar o crescimento cognitivo de seus alunos-filhos, eu disse que gostaria de ser Ministro da Educação. Muitos riam de minha pessoa, apesar de não ser uma piada. Talvez não quisesse mesmo tornar-me o titular da educação, mas se era para pensar em alguma coisa em relação ao futuro, não pensei menos do que o professor número um do país. Fui considerado um idiota.

     Gosto de falar de como as coisas funcionam dentro da minha cabeça. Pois eventualmente consigo estabelecer pontos em comum com os diversos assuntos que emergem. Eu proponho um exercício, que vocês escrevam sobre qualquer coisa. Como uma boa conversa psicanalítica, perceberão em vocês exatamente o que percebi em mim ao escrever isso tudo. De que hoje me submeto ao processo imposto pelo sistema educativo, o qual em um passado romântico e distante cogitei domar.

     É assim. Quando se sofre, a nossa mente procura os contraexemplos que poderiam justificar nossa permanência na área do sofrimento, gerando um alívio psicológico muitas vezes baseados na fantasia. Afinal, quando ocorreu a técnica de grupo citada, eu era uma das pessoas mais infelizes do mundo. A perspectiva de hoje me mostra que realmente era infeliz, mas meus sonhos ainda não estavam mortos.

     E executando sua escrita pessoal, pode economizar uns anos de estresse e eventualmente uma consulta oficial com um profissional.

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