14 de novembro de 2011

Sou religioso - em um universo paralelo.



     Não sou religioso. Apesar de ter participado de diversos movimentos de tão igualável pluralidade de orientações filosóficas e correntes religiosas, não sobrou nada daquilo em minha pessoa. Realmente por muito tempo eu quis acreditar em alguma coisa. Quando percebi que mais importante do que eu quero é a verdade, eu entendi que poderia depositar crédito em uma pedra que esta permaneceria sendo inanimado. Isto não reforçaria sua existência já bastante sólida. Não faria a menor diferença. Como um defensor da liberdade de pensamento, também todos têm o direito de acreditar no que quiser. Inclusive em aparelhos de chá orbitando o sol. O que me deixa um tanto preocupado é a dicotomia de reações quando se trata do relacionamento dos seres humanos com extra-planares.


     Uma das poucas coisas que não ouso discorrer é sobre múltiplas dimensões. Apesar de semelhante aos paradigmas de tempo-espaço, estas não me chamam a atenção. Questões de espaço-tempo trazem com nova roupagem grande parte de nossa lógica clássica. Uma forma de encantar os pequenos com assuntos empoeirados. Já a possibilidade de existir outros 'eus' paralelos, não me agradam. Não que eu queira ser único, mas saber que existam outros semelhantes já me deixa um pouco preocupado. Imagina se existirem seres idênticos! E segundo O Confronto, outro tedioso filme do Jet Lee, temos todos um equilíbrio de energia potencial. Ou seja, algum outro eu é feliz por nós dois.


     Lembro de ter presenciado uma criatura que se dizia ligada a uma divindade da moda, ridicularizar uma outra pessoa por não serem praticantes de uma mesma religião e não cultuarem esta mesma divindade. Simplesmente patético, pois mais da metade dos argumentos não eram lógicos e todos eles poderiam muito bem ser usados contra o primeiro se substituíssemos os papéis. Infelizmente procuramos exaltar o que nos faz diferente e se agimos semelhante a outro, criamos a ilusão da originalidade. Pense bem. Se Deus existe, proselitismo é o demônio.


     Se alguma divindade for defendida como se vivesse em uma outra dimensão paralela, poderia ser qualquer um de lá que tenha conseguido se comunicar com um dos nossos. Não há necessidade de manter todas as alegorias e tradições como verdades irrefutáveis. Se algo carrega essa característica por imposição, algo está muito errado. Conheço alguns que perderam seus deuses para os remédios. Onde está a grande verdade irrefutável que sai pelo lado oposto de onde entra um fármaco psicotrópico? E talvez fosse o tempo todo alguém de outra dimensão alertando-nos sobre descobertas deles que poderiam nos ajudar. Ou não.


     Em um mesmo programa de televisão vi sendo desmerecido uma pessoa que se dizia seguidora de lúcifer. E outra, que dizia carregar um dom divino, ser aconchegado pelo rosto sublime e claro de expressão serena que todos fazem quando são surpreendidos por este tipo de resposta óbvia. Qual a diferença das duas ações? Apesar do primeiro ser bastante ignorante, demonstrava uma espécie aparente revolta contra um fragmento intocável do pensamento social, a religião. O outro era o avatar do status quo. Não me impressiono com mais nada nesta vida, creio eu. Afinal, sou da geração que viu Mamonas Assassinas e Lady Gaga. Sou favorável ao livre culto. Desde que não em minha casa.


     Se existem universos paralelos, onde a diferença entre cada um deles pode ser apenas uma característica ou objeto, em algum deles sou um religioso fervoroso, assim como em outros posso ser um criminoso. E uma intersecção entre estas características seria uma boa história em quadrinhos. Se em um destes universos eu estou neste momento escrevendo com uma camiseta roxa, neste sou feliz. Mas acho um tanto difícil acreditar que em qualquer um destes exista alguma divindade.



Nenhum comentário:

Postar um comentário