6 de dezembro de 2011

Teoria do caos ou "pessoas aleatórias"



     Antes de sair da escola, fui surpreendido por uma senhora que perguntava se eu sabia onde era o diretório do partido político que detém a prefeitura da cidade. Apesar de ter ficado desnorteado por uns instantes, tentando compreender a linha de raciocínio entre a minha pessoa e o prefeito, respondi prontamente que não sabia.


     Sou uma daquelas pessoas que fala muito. E pelo nível de surdez, falo um tanto mais alto do que o comum. Lembro de ter sido repreendido uma vez pelo comprimento de minha barba e da altura do meu falar. O argumento era algo como "mulheres não gostam de exageros". Quem me conhece sabe que procuro não deixar as opiniões da moda ditarem como devo me comportar ou com quem parecer. Ou seja, não estava muito preocupado se estava sendo exagerado. Procurava sempre ser o mais autêntico possível. E não posso explicar como me é estranho esse tipo de comentário surgindo de uma fonte aleatória. Principalmente responsabilizando um gênero, usurpando a opinião das mulheres, para dar-me uma aula de como funciona a sociedade.


     A senhora vinda da nuvem de caos contou-me que em sua sofrida vida, apenas um homem a ajudou no passado, quando precisava cuidar dos filhos pequenos enquanto o esposo trabalhava distante da terra natal. Este homem havia lhe favorecido perante alguma secretaria de assistência, coisa que na época, segundo a mesma, não era autônoma como hoje. Este mesmíssimo homem ocupa hoje o cargo de prefeito da cidade. E, para esta senhora, será lembrado como o salvador de sua angústia. Convenhamos, segundo ela, eram seis crianças que dependiam dela e precisavam de um lar. Qualquer mão que ajudasse, seria lembrada com carinho.


     Quando agimos, explicando de forma exagerada, movemos as cordas onde estão atadas nossas vidas, os cenários e objetos em nossa realidade. Quando temos uma boa ideia, agimos de forma benevolente, é como se pela perspectiva dos favorecidos, nossa presença fosse desejada e nossos relacionamentos se estreitassem. Quando há a ofensa gratuita, o desconforto impera entre os seres. Mesmo sabendo lidar com as críticas, quando a palavra é afiada (e envenenada) de forma a causar dano, gera mágoa. E para isso não há solução. A mágoa é o calo da alma. Uma lesão que deforma e machuca. Passa a ser parte indistinguível do corpo.


     Muitos talvez não saibam como é ser lembrado por ter ajudado alguém, por ter sido importante em um momento delicado, de uma palavra de conforto ou ânimo durante um período de desespero. Uma ação nossa, tão superiores em nossos próprios egos, pode mudar a vida e a perspectiva de um semelhante, principalmente quando sensibilizado pelos apuros da vida.


     Esta senhora quase chorou ao lembrar como foi bom descobrir que o mundo poderia ser um pouco mais agradável quando se conhece as pessoas certas.


     A vida não é justa. É composta por pessoas. Pessoas não são justas. Ainda bem.


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