Percebo uma certa revolta em jovens profissionais da educação quando suas disciplinas são desmerecidas em relação ao eixo "língua portuguesa - matemática". E os mais velhos acabam por associar-se a um dos professores destas duas disciplinas quando pretendem argumentar algo. Seja lógica, organização ou coesão de respostas, é razoável esse tipo de ligação. Um transtorno global do desenvolvimento precisa deixar evidências em todas as atividades, afinal é um transtorno global.

Assisti uma palestra sobre educação física na infância, com o objetivo clássico dessa disciplina: trabalhar comportamento, limites, cooperação, saúde e diversão. Por fim o palestrante deixou transparecer sua insatisfação da inexistência desse tipo de serviço, do profissional da área, em todas as escolas infantis. Inclusive sua companheira de apresentação mostrou-se bastante infeliz por não haver este cuidado, de uma vida saudável desde a pequena idade e o desmerecimento do mesmo na educação básica.

Um dia claro de inverno, estava eu na sala dos professores da escola em que trabalho quando a colega, ponta oposta do eixo, expôs a suspeita que determinado aluno portasse alguma deficiência cognitiva. Para quem não é do corpo docente, não sabe que isso é parte de uma piada pronta, afinal alguns cérebros parece funcionar apenas nas últimas semanas do ano, quando o desespero é maior do que a arrogância.
Passei um tempo observando o indivíduo e pude constatar que este não produz material suficiente para ser aprovado. E desde o início havia notado isso, apenas nunca havia cogitado a possibilidade de estar expondo uma pessoa com dificuldades reais de aprendizado ao meu método caótico de ensino.

Muitos acabam se decepcionando com determinadas ciências pela forma com que é apresentada. Ou pelo confronto de humores com o docente responsável. Procuro deixar clara a diferença entre a matemática e minha personalidade. Procuro apresentar a ciência da forma mais agradável possível. Sou aquela pessoa que procura arranjar namorados para uma amiga um tanto distante e intolerante. Tento vender suas características mais agradáveis como seu senso de justiça e humor peculiar.
Mesmo assim, este meu aluno, não apreciador da matemática confesso, aparenta realmente ter algum distúrbio. Mas não é nada que impeça-o de concluir e entregar os trabalhinhos propostos. Isso ele não faz. O que posso deduzir? Que este tem um problema muito sério comum aos jovens: desinteresse. Infelizmente não há o que posso fazer para chamar mais a atenção destes.
O que me preocupa muito é essa indisposição do corpo docente de se conhecer e saber o que cada membro pensa. Suas perspectivas e frustrações. Um corpo vivente com partes autônomas. Cada um puxa para um lado diferente. Assim estamos formando uma nação de esquizofrênicos.
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