9 de dezembro de 2011

Separando tudo até a última ponta.


     Percebo uma certa revolta em jovens profissionais da educação quando suas disciplinas são desmerecidas em relação ao eixo "língua portuguesa - matemática". E os mais velhos acabam por associar-se a um dos professores destas duas disciplinas quando pretendem argumentar algo. Seja lógica, organização ou coesão de respostas, é razoável esse tipo de ligação. Um transtorno global do desenvolvimento precisa deixar evidências em todas as atividades, afinal é um transtorno global.


     Assisti uma palestra sobre educação física na infância, com o objetivo clássico dessa disciplina: trabalhar comportamento, limites, cooperação, saúde e diversão. Por fim o palestrante deixou transparecer sua insatisfação da inexistência desse tipo de serviço, do profissional da área, em todas as escolas infantis. Inclusive sua companheira de apresentação mostrou-se bastante infeliz por não haver este cuidado, de uma vida saudável desde a pequena idade e o desmerecimento do mesmo na educação básica.


     Como sou um adepto da vida sedentária, não tenho um grande argumento e lição sobre exercícios físicos. Não nos damos bem. Hoje sou obrigado, mas a vida corrida moderna me obriga a permanecer imóvel. Ainda cumpro minha promessa de exercitar-me. Por enquanto não.


     Um dia claro de inverno, estava eu na sala dos professores da escola em que trabalho quando a colega, ponta oposta do eixo, expôs a suspeita que determinado aluno portasse alguma deficiência cognitiva. Para quem não é do corpo docente, não sabe que isso é parte de uma piada pronta, afinal alguns cérebros parece funcionar apenas nas últimas semanas do ano, quando o desespero é maior do que a arrogância.


     Passei um tempo observando o indivíduo e pude constatar que este não produz material suficiente para ser aprovado. E desde o início havia notado isso, apenas nunca havia cogitado a possibilidade de estar expondo uma pessoa com dificuldades reais de aprendizado ao meu método caótico de ensino.


     O global, de transtorno global do desenvolvimento deste menino, passou a ser questionado no momento em que tive a maravilhosa (e nada original) ideia de conversar com outros professores. A titular da disciplina de educação física me deu a revelação. Enquanto ela falava eu agradecia não ser professor de física, constantemente confundidos com aqueles modelos das propagandas de pasta de dente, da educação física. A mulher disse que o menino em questão participava ativamente dos jogos propostos, sabia comportar-se perante os outros, negociava, seguia as regras, exigia o mesmo dos colegas, ou seja, era como uma criança comum, para não dizer normal.


     Muitos acabam se decepcionando com determinadas ciências pela forma com que é apresentada. Ou pelo confronto de humores com o docente responsável. Procuro deixar clara a diferença entre a matemática e minha personalidade. Procuro apresentar a ciência da forma mais agradável possível. Sou aquela pessoa que procura arranjar namorados para uma amiga um tanto distante e intolerante. Tento vender suas características mais agradáveis como seu senso de justiça e humor peculiar.


     Mesmo assim, este meu aluno, não apreciador da matemática confesso, aparenta realmente ter algum distúrbio. Mas não é nada que impeça-o de concluir e entregar os trabalhinhos propostos. Isso ele não faz. O que posso deduzir? Que este tem um problema muito sério comum aos jovens: desinteresse. Infelizmente não há o que posso fazer para chamar mais a atenção destes.


     O que me preocupa muito é essa indisposição do corpo docente de se conhecer e saber o que cada membro pensa. Suas perspectivas e frustrações. Um corpo vivente com partes autônomas. Cada um puxa para um lado diferente. Assim estamos formando uma nação de esquizofrênicos.


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