3 de dezembro de 2011

Inconveniente, eu?




     Sou inconveniente. E não sou a verdade. Muito menos a vida ou o caminho. Apenas um homem. Um homem inconveniente. Ouvi três vezes em um curto espaço de tempo que carrego esta característica. E não é aquele tipo de inconveniente que conta piadas ruins ou que precisa ser carregado para casa quando a noite acaba. São comentários sobre o comportamento humano, perguntas indiscretas e eventualmente brinco com o que os outros estão pensando. Sim, eu leio mentes. Pelo menos parece.


     Outro dia, uma colega de trabalho, que não estava em um auditório meu, comprou uma torta para degustação enquanto a futura diretora da escola onde trabalho se apresentasse. Sucumbi ao humor questionável quando sugeri que o cenário tivesse sido arquitetado para que todos fossem favoráveis ao grupo apresentado. Levantei a hipótese cômica da compra de votos de uma eleição com apenas um conjunto candidato. Parece que mais de uma pessoa havia pensado nisso, mas apenas eu falei. E fui propositalmente mal interpretado.


     Eu sempre gostei de gerar interpretações múltiplas. Sempre o fiz e creio que se há algo que eu faça bem, é isto. Mal interpretação é comum em um meio social e comunicativo. Assim como deformação da realidade em um mundo onde quase ninguém pergunta pelas fontes das informações recebidas. Ou procura saber dos sujeitos envolvidos. Nisso me torno inconveniente, pois pergunto tudo. Confiro cada fragmento das histórias que me contam em cada esquina. E quando vejo alguém fazendo o mesmo, sinto que o mundo não está perdido. Por mais que o assunto seja superficial.


     Inconveniente, hoje, é quem fala o que pensa. E mais grave, é dilacerado moralmente por aqueles que pensam semelhante. Não há a necessidade de um adversário, o diabo, quando a alma humana consegue ser muito pior do que qualquer ser que habita alguma profundeza. Inclusive a transferência das nossas responsabilidades para entidades invisíveis prova que somos cruéis em essência.


     Inconveniente é quem diz esse tipo de coisa. Quem nos desmascara, quem rouba nossos demônios. Exorcismo é quando alguém fala a verdade em um mundo onde figurantes mentem.


     Sim, eu preciso aprender a não dizer tudo que sei. Por mais que seja contraditório ao nome desta página, Rachid precisa deixar de falar o que sabe.


2 comentários:

  1. Inconveniente é o título certo para os integrantes da força contra a lei de Gerson. O problema de se supor/falar/ver certas coisas é que tu é visto como inimigo e a partir daí tentam de "dar uma lição", em inúmeras oportunidades, até te tornar mais um.

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  2. Minha visão romântica do mundo ainda me mata.

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