29 de dezembro de 2011

Simulação e cultura



     Estamos tão acostumados com simulações que muitas vezes não a separamos da realidade. Por exemplo, você compreende o objetivo social das telenovelas? O poder da literatura indica os anseios do povo. Quando se sonhava com um mundo mais justo, os livros consumidos na época contavam estas histórias. Quando queríamos romances ou aquele confronto com o sistema patriarcal que todos tínhamos guardado, era isso o que se lia.


     O que precisamos pontuar é que a grande maioria da população, cliente da televisão, não estaria lendo. Este aparelho foi além do rádio, e alcança qualquer nível, inclusive aqueles que não são marcados por letras. O que nossa literatura diz hoje dos nossos anseios, pode ser facilmente deformada pela quantidade de pessoas alienadas que cultivamos nestes últimos anos. Não me surpreende saber que livros frágeis como da série Crepúsculo ou até alguns de auto-ajuda-com-açúcar, vendam horrores. Minha esperança é que essa geração evolua a capacidade de leitura. Que fiquem mais exigentes. Que não acabem apenas lendo aquela série de romances do estilo "Bianca" ou "Sabrina".


     Toda e qualquer história contada, jogada, cantada ou sussurrada pode ser uma boa alavanca para grandes leituras. Não quero parecer culto e sugerir Dostoiévski de cara, mas é importante em alguma parte da vida tocar em algum clássico. Como se sabe, para evitar cometer os mesmos erros, precisamos conhecer o passado, nossa história. A perspectiva humana dessa história vem de sua literatura, de sua produção, de suas histórias.


     Alguns personagens, com os quais me identifico, levantam essa questão da simulação. Permito-me interpretar a mensagem condensada: o que verdadeiramente sentimos é real. Se o estímulo externo foi real ou produzido/induzido, faz tanta diferença assim? Não incentivo um culto aos nossos sentimentos, precisamos entendê-los tanto quanto a ausência deles, mas tendo como partida o nosso próprio funcionamento, podemos compreender como é o mundo que nos cerca - e como é nosso mundo ideal.


     Essa ideia vale para todos. Inclusive aqueles aparentemente acéfalos que consomem parte de suas vidas recebendo estímulos doutrinados da mágica caixa colorida. Pensando bem, quantas criaturas, senão poucas, ousam subir acima da margem da lagoa original? Ou apenas, trocar de canal?


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