10 de dezembro de 2011

Comunicação e call center


     Toda comunicação humana tem camadas de compreensão. Um entendimento profundo sobre determinado assunto depende de um espaço dentro do indivíduo e entrelaçamento de interesses que o sustente. Assim como um detalhe pode deixar de ser percebido por falta do observador, pessoas superficiais tendem a tratar tudo com superficialidade. Apesar desta introdução filosófica, o objetivo deste texto é relatar minha última interação com o call center de minha operadora de telefonia e internet. Ou seja, é preciso muita paciência para contornar esse tipo de situação.


     Estou sem internet em um aparelho móvel que assemelha-se muito com um tablet, mas tem função de smartphone. Meus dedos é que são grandes. Mesmo ainda tendo crédito pré-pago, resolvi garantir e coloquei um pouco mais de dinheiro nesta conta. Interessante é que todas as vezes que isso acontece, apesar de não ser a Mulher Maravilha sem laço ou o Super Man exposto ao cristal que lhe enfraquece, o sinal de internet foge. Resolvi hoje entender o motivo. Claro que poderia ser uma infeliz coincidência, mas ocorreram duas vezes esta situação infeliz.


     Ao ligar para o número sugerido no site da operadora, a primeira atendente foi absolutamente ignorante e inflexível. Senti como se ela estivesse fazendo um favor ao me atender, sendo que eu era o cliente. Como desabafei no twitter, se era para fazer um serviço mal feito, era melhor que não tivesse. Esta primeira atendente disse que, além das configurações de telefones "mais simples", um tablet não está coberto pelo contrato, então eu precisava de um outro plano específico. Senti que falar com o Cleverbot era mais produtivo do que com esta atendente. Em determinado momento eu disse que não acreditava no que ela dizia e pedi que ela me desse as informações de configuração do telefone "mais simples" que eu iria reproduzir no tablet. Ela me passou para uma segunda atendente, do suporte técnico. Sem dar tchau, nem obrigado por sua ligação. Comecei a ficar nervoso.


     A segunda atendente sugeriu que eu contratasse um plano de dados para o tablet. Com toda a educação que tive, disse gentilmente que não precisava de mais dados do que já uso. Parece que a palavra "tablet" é o nome de algum demônio que puxa o pé de profissionais das telecomunicações, pois quando se fala neles, todos se retorcem e até mudam o tom de voz. Como ela não conseguiu me vender o plano de dados, duas vezes mais caro do que gasto hoje, tentou novamente a falácia da promoção não abranger o tablet. Infelizmente, para eles, o contrato não fala isso. Diz que apenas como um modem ou em um computador, estaria fora do plano. Mesmo lendo para ela o contrato, a criatura agiu como uma boa religiosa e não parecia querer resolver meu problema: apenas fazer-me contrair uma úlcera e uma conta de telefone. Quando eu disse que iria desligar a ligação e iniciar tudo outra vez falando em smartphone, como se fosse este meu aparelho, ela resolveu me enviar para o suporte técnico. Eu fiquei surpreso pois achei que já estava neste setor.


     O Carlos me atendeu e salvou o dia. Concordou com meus argumentos, afinal estava baseado no próprio contrato do plano, concordou que as atendentes anteriores realmente estavam mal preparadas para questões mais elaboradas, ou apenas questões elaboradas. Este rapaz ficou na linha comigo uns dez minutos e constatou que havia apenas um problema. Como da outra vez, a resposta só podia ser manutenção. Inclusive este homem explicou o motivo pelo qual muitas vezes a palava manutenção soa como um placebo em telemarketing. Afinal, realmente representa um problema técnico mas que se manifesta totalmente no mundo físico, não havia nada que ele poderia fazer por mim, apenas aguardar. Prometeu ligar no outro dia, já conheceu minha mãe (que é a titular da conta neste aparelho) e foi absolutamente gentil. Acho que iniciei o primeiro Bromance telefônico de minha vida. Uma pena que as moças não foram tão felizes e sinceras quanto este homem. Obrigado, Carlos!


     Percebo nesta situação que a informação que eu precisava estava atrás de duas outras pessoas. Como uma cebola, tive que descascar um pouco para chegar em uma situação mais confortável em relação ao problema que tinha. O que falta? Treinamento? Interesse?


     Em todas as vezes que liguei para contratar algum serviço sempre fui feliz. Quando é para reclamar ou cancelar, sinto que o universo conspira contra minha pessoa. Felizmente não é apenas comigo que isso acontece. Se pensar, a cortina de abobrinhas feita pelos dois primeiros contatos é para evitar incômodo com incluídos digitais. Essa cortina é formada por outros recém herdeiros desses projetos sociais. Assim, semelhantes se confundem e todos ficam aparentemente satisfeitos.



     Ao encerrar a ligação, meu amigo Carlos pediu encarecidamente que eu permanecesse na linha e desse uma nota para o atendimento. Perguntei de imediato se a nota iria para meu novo amigo somente ou era sobre toda a ligação. Como ele me disse que seria apenas para o último atendente, garanti uma nota máxima para ele.


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