31 de outubro de 2011

Zeitgeist ou "o dia que descobri pokemon"


     Em um dia chuvoso deixei de ir para a escola. Apesar de morar próximo da instituição, a chuva era um pretexto para não ir colégio. Hoje trabalho com algumas das pessoas que menos me inspiraram a me tornar professor. Como ouvi em uma palestra, a notícia boa é que alguns destes irão morrer. Não acredito que ninguém possa deixar de ser medíocre mas há casos em que as pessoas fazem força para permanecerem neste nível. Como era um dia propício para não ir, permaneci em minha residência. Minha mãe iria ao centro da cidade e, contrariando seu próprio comportamento desde então, perguntou se não gostaria que ela comprasse algo para eu ler. O que veio desta solicitação, mudou minha vida.


Culpada.
     Diferente da mãe de um aluno meu, minha progenitora preferia que eu ficasse em casa do que atrapalhasse a aula. Ela é daquelas pessoas que tiveram pouca instrução mas valorizaram tudo que aprenderam durante a vida. Ela não se tornou gerente de uma grande estatal gaúcha por achar que não era boa suficiente. Um acompanhante da obesidade, e de outras características dela, é a falta de uma visão real da própria pessoa. Uma espécie de auto-estima alternativa. Não existe obeso que não sofra disso. Obesidade, provavelmente, é um dos sintomas dessa característica.


     Eu estava sonolento quando ela voltou. Despertei imediatamente no momento em que ela entregou-me um pacote com uma revista grande dentro. Ao rasgar o pacote, descobri que se tratava de um novo jogo, para nós brasileiros de baixíssima renda. Era Pokemon. Era um "detonado", ou seja, o jogo de cabo a rabo. Li e reli aquela revista incontável vezes. Imaginava o quão divertido devia ser o tal jogo de coleção nipônico. Foi onde descobri que havia um desenho e que estava recém começando a passar na televisão aberta brasileira. Isso foi antes da internet. Na verdade, a internet é realmente recente para mim. E foi o meu primeiro anime, como são chamados estes desenhos animados japoneses.


My generation.
     Acabei comprando um Game Boy em uma viagem que fiz ao centro da terra aos Estados Unidos. Afinal, ainda é difícil comprar tecnologia estrangeira. Nunca fui tão feliz. Sabia tudo que precisava fazer no jogo de cor. Daí nasceram dois problemas. O primeiro é que o jogo é mezzo social, ou seja, há uma parte do jogo que envolve combates e trocas com outros jogadores, e eu era o único em um raio de 65 quilômetros. O segundo era que meu personagem preferido não era nativo ao jogo. Exigia tal troca. Nunca fui tão infeliz. Até que aprendi a "hackear" o jogo. Através disso, talvez, nasceu minha paixão pela matemática. Fiz todos os horrores que se pode imaginar, mas meu objetivo de jogo sempre foi ter aquele personagem.


São hardocore
esses akatsuki.
     Quando eu era aluno desta escola, assistia desenhos, conversava com meus colegas e brincava muito com estas temáticas. Meus professores eram, em sua maioria, uns alienados em relação ao mundo novo que se apresentava. Enquanto na terra do sol nascente, quadrinhos e animes eram coisa séria, aqui por muito tempo foi coisa de criança. Hoje discuto moral e comportamento usando Naruto. Apesar de não gostar muito do personagem principal, acho o contexto bem simpático, vulgarmente falando. E é uma linguagem comum entre duas gerações. Eu estou sozinho aqui, isso é verdade, mas o futuro que nos aguarde.



     Você que está lendo isso é um privilegiado(a). Ainda há muita gente excluída desse espírito de colaboratividade e imaginação no qual nascemos. Mas, mesmo assim, a tendência é que, com o aumento da população, os empregos se tornem mais concorridos, e um fator de desempate será conexão ao tão chamado zeitgeist. E não é o documentário. A próxima geração será beneficiada pelo nosso comportamento hoje. Essas idéias de compartilhar, de trabalhar em conjunto, de defender nossas terras de ataques alienígenas podem ser facilmente traduzidas em virtudes, se bem direcionadas.


30 de outubro de 2011

Conto: Desalmado


      Ela pegava a criança pela mão que chorava e chamava pela mãe. Iriam para a igreja. Todos que acompanhavam a situação percebiam a força que aquela mulher fazia para arrastar sua criança para a missa. Força que era inversamente proporcional a vontade do pequeno de permanecer na frente de um tal senhor que ouviu em uma história do livro. Ao perguntar o motivo pelo qual precisava ir para a igreja, a que ocupava o papel de mãe respondeu com ignorância. E ignorância é a forma cruel de lidar com perguntas que nem quem as devia responder, sabe como.



     Na igreja, depois do pastor ter alimentado algo chamado alma dos presentes com as tais palavras eternas, o menino perguntou se todas as palavras já não eram eternas por definição. Alguns olharam assustados, afinal palavras eternas eram só as do livro. Apenas no livro eterno. E o garoto gostava mais dos livros de história e dos de colorir que não tinham pretensão alguma de serem eternos.

"Mas eu não durarei para sempre. Não preciso de palavras eternas" disse para si.


     Conforme voltavam para o trailer que moravam, testemunhou outra surra que sua transportadora levava do que foi ensinado a chamar de pai. Este homem grande era ciumento apenas quando bebia. Era infeliz e bebia desde cedo. Não, definitivamente não queria durar para sempre. Se aquele homem tinha alma, talvez sentisse fome pois a dele não era alimentada há anos.

     Não era feliz. E a pior coisa que se pode ter no mundo é uma infância infeliz e sem perspectiva. Um fato irreparável. Pelo resto da vida ouvirá músicas fora de tempo, responderá mal aos sinais de afeto e se preocupará com coisas que não importam verdadeiramente. Se preocupará mais em fugir do hoje, do que sente. Procurará um eterno que o acolha. Mas este menino tinha perspectiva.

     Em outra oportunidade, ao prestar atenção durante a alimentação da alma percebeu que sua barriga não enchia. Nem seu coração, como pensou quando ouviu a resposta sobre sua barriga vazia mesmo depois dos sermões. "Eu não tenho alma" pensou. E seu pensamento deve ter sido lido. Ou deve ter sido alto pois algumas pessoas próximas ouviram. E este pensamento se deu imediatamente depois de um hino. Naquele espaço vazio de som onde apenas o que é natural se ouve.

"Não, meu filho, tu tens alma sim! Todos temos alma."

"Mãe, papai tem alma também?"

"Claro, todas as criaturas têm alma."

     Sabia que era diferente. Nunca foi tão fácil perceber que não pertencia aquele mundo. Definitivamente era um "de fora", como pensou. Era um desalmado. Não precisava alimentá-la nem fingir ter. Era como um amigo imaginário que ninguém precisava saber que não tinha. Entoou como nunca todos os louvores ao amigo imaginário ao qual todos depositavam suas aflições e desejos mal orientados. Mas sabia que era tudo fingimento. E não era difícil. Nem moralmente reprovável, afinal não existe moral antes dos oito. Nem em algumas histórias que tangem a realidade. E então era feliz. Afinal, quem é feliz sabendo que livros de colorir não são eternos?

29 de outubro de 2011

Matemática informal ou "mamãe não sou um número"


     Mente quem diz que não somos números. E mente feio. Toda e qualquer interação pessoal envolve classificação. Todo progresso é orientado aos números e eles dizem se este é verdadeiro. Matemática não só é cruel para quem tem péssimos hábitos.


Not a number, é?
     O tempo todo cresci ouvindo meus professores dizerem que não éramos apenas números. Que não poderia um número abrigar toda nossa "potencialidade". Apesar de não entender exatamente o que significava isso, sempre achei um tanto incoerente que a chamada era feita através dos números. E isso era reflexo do fato de que era realmente mais fácil que soubéssemos um número cada um do que um professor decorar os nomes de todos e associar isso aos números da chamada. A organização dos nomes em ordem alfabética é um aspecto do pensamento matemático. Os números governam o mundo.


     Quando estamos andando pela cidade, observamos que temos um certo nível de relacionamento com quase todas as pessoas. Esta escala vai desde o "desconhecido" até níveis como "melhor amigo" ou "família". Até dentro da família tem pessoas que procuram não se envolver um com os outros. Classificados então como "família núcleo interno", "família tios e primos" e o fatídico "família refugos", que estão abaixo do nível até de "semi conhecidos" por carregarem a pior manifestação dos nossos genes. É isso. Cumprimentamos uns, atravessamos a rua por outros. No fim, montamos uma escala de quem vale a pena, conforme ao nosso julgamento, deixar o que está fazendo ou arriscar perder a hora para mostrar-se, para inferir na vida de outrem. Essa classificação envolve um pensamento lógico e matemático.


Ui.
     Quando ouvimos dizer que o determinado índice de algum local subiu, pensamos primeiro se realmente é bom que este se comporte dessa forma. Comparamos estes valores com nossas localidades ideais e chegamos a conclusões. Isso tudo envolve matemática intensamente. Muitas vezes se ouve dizer que o Japão tem grandes índices de cobertura de internet móvel, diferente do Brasil mas nem sempre alguém explica que a nação verde e amarela é muitas vezes maior que a terra do sol nascente. Enquanto lá eles vivem da tecnologia, aqui ainda somos poderosos no setor agrícola. Isso tudo é pensamento matemático.


Sua sociedade subjetiva.
     Nossos hábitos fazem com que tornemo-nos o monge que planejamos ser. Se nosso comportamento não condiz com o que queremos, a culpa não é da lógica. É nossa. Ser considerado um número não deveria ser tão traumático quanto deixam parecer os neo-pedagogos. CPF, RG, inscrição estadual, matrícula, índice, ordem, limites... Isso tudo é baseado nas nossas leis. E nossas vidas, se não concordarem com essa coisa toda, não é pertencente ao ideal como sociedade. 


Se há algo de errado, mesmo que mudem tudo, ainda haverá retas paralelas e segmentos que indicarão como proceder. Mesmo que seja como tratar um desafeto ou alguém querido, o poder de atravessar a rua, isso ainda poderá ser modelado. Afinal, a ciência, a matemática para ser mais preciso, é firme para que se evite desvios de caráter.


Da corrida que todos querem ser o primeiro.

28 de outubro de 2011

Comum de dois ou "toda necessidade é especial"


     Sua mente é o último reduto. Onde tudo é válido e tudo pode. Como um universo todo seu onde tudo que queres acontece. Seu mundo pode ser livre de todos aqueles que não concordam com sua opinião. Afinal ela é quem diz "faça-se a luz" nesta dimensão. Não há perigos ou mistérios se assim não quiser. Não há quem faça o mal (ou o bem) se não for sob sua presente vontade. Sim, você é seu deus em algum lugar. Mas não se engane pois também sois divindade apenas lá.



     Não existe coisa mais primitiva do que sermos obrigados a fazer o que não queremos. Não sou obrigado a ter amigos amarelos, verdes ou azuis. Afinal não sou obrigado a ter amigos. Não sou obrigado a me casar e ter cinco filhos. Não. Apesar do que aparece na televisão, não sou obrigado a embebedar-me para ser feliz. Café está liberado.

     A grande farsa do século é esta idéia que somos iguais e temos que ser tratados da mesma forma. Pois não. Felizmente não somos. Uns precisam mais dos que os outros. E isso não é bem definido afinal, existem assentos e atendimentos preferenciais. Somos seres empáticos por natureza ou é apenas social o desconforto causado por uma senhora grávida em pé no ônibus que faz com que grande parte da população levanta e dá seu lugar? Se for apenas contratos sociais, em breve não se verá isso. Se é que ainda existe.

     A frequente negação da natureza humana gera situações onde uma pessoa se nega a permitir que alguém em situação mais delicada seja beneficiado. Aliado ao fato de que todos são iguais perante a lei, carga positivista gratuita, geramos criaturas grotescas que mentem descaradamente em programas de televisão de forma perpétua. Mas nada muda. Afinal, estamos todos imersos nesse nosso mundo particular onde tudo foi feito por nós e para nós.

O que está dentro é
igual o que está
fora.
     Não somos obrigados a nada. Participamos de uma sociedade onde parte de nossos contratos foram escritos em uma época obscura aos avanços tecnológicos. Outra parte é mantida pela mídia dominante. A última parte é sustentada pela nossa educação débil e orientações filosófica-religiosas totalmente alternativas ao pensamento racional. Isso faz-nos pensar que conforme ficamos mais velhos, este nosso mundo interno concorre brutalmente com o mundo real. Em determinado momento é esperado mais dos sonhos do que dos amigos. Por fim, perdemos nosso brilho no olho, nosso espírito investigativo e nossa vontade de mudar.

     Não querendo soar como auto-ajuda, mas só estamos tendo mais informações. Tudo sempre esteve ruim. Agora temos mais consciência. No futuro, pode ser que tornemos nosso caminho externo tão divertido quanto é o interno. Afinal, em determinado nível, são o mesmo. Nós somos o ponto em comum aos dois. Depende de nós. Apesar do café, isso soa forte como auto-ajuda.


27 de outubro de 2011

Da inveja ou "O mundo não é justo".


     A natureza dotou o ser humano com algo que pode ser resumido como aquele sentimento de que há algo errado. Sim, é uma espécie de inconformidade com a realidade da forma que ela se apresenta. Isso faz parte do que pode ser considerado legítimo humano: inconformidade. Nunca é o suficiente. Nisso sustenta-se o pensamento científico, de entender o motivo pelo qual as coisas acontecem. O problema, e nesse ponto sempre se torna um, é quando essa sensação é superior ao resto. Quando você acredita que suas capacidades são inferiores aos exemplos que lhe aparecem.

Sal grosso não resolve.
     Nunca tive muitos amigos. Nenhum até agora sobreviveu muito tempo. Deve-se provavelmente ao meu trato com as pessoas. Até minha mãe já disse que eu sou uma pessoa difícil de conviver. Não é algo que me agrade muito mas nem procuro resolver. Afinal, se existe amizade verdadeira, ou até amor, eu sou uma boa prova. A tão famosa prova de fogo. Um grupo destes sobreviveu um ano completo. Até que foram estragando os relacionamentos do conjunto de análise combinatória. Ninguém mais permanecia no recinto se determinada combinação de pessoas se apresentasse.

E o cara ficou careca.
     Um deles, que não era o inteligente do grupo nem o "bonito" (estava mais para alívio cômico), sofria de uma crise global. Aquela que todos temos em determinado momento da adolescência. Sempre houve alguma tensão entre este e o "bonito" do grupo. Sempre ouve. Até que um dia o alívio cômico revelou coisas que nunca teria imaginado do outro. E por fim, disse que, apesar de ser o que mais chamava a atenção entre todos nós, aquele "bonito" ainda havia de sofrer de calvície prematura. Pois não podia ser, conforme o alívio cômico, tão modelo eternamente.

Não significa nada.
Apenas um meio de transporte.
     Vivemos em um mundo em que carros e aparência, apesar de simbólicos, são de imensa importância. Algumas pessoas lutam contra mas a verdade é que, infelizmente, por um bom tempo isso ainda irá ditar o que é certo e o que é errado. E nós, eu e o alívio cômico, não éramos dotados destas capacidades que nos tornaria déspotas. Um dos problemas gerados por esse status quo é a incapacidade do ser pós-moderno saber se o que sente é real pela frequente negação da sua natureza. A negação da natureza é a resposta imediata dessa inconformidade humana perante a realidade. Afinal, quem quer realmente viver em um mundo desses? Ou pertencer ao mesmo conjunto de indivíduos que estes?


"Beleza" vale tudo isso?
     A inveja é simplificada de forma que possamos perceber que permeia nossos dias o tempo todo. Provém de uma simples comparação da eventual situação em que nos encontramos com a de outrem seguida de uma visão turva de nossa real capacidade. Nisso, gera-se pensamentos negativos que tentam desqualificar este outro. Qualquer distúrbio no meio desse processo pode tornar essa situação muito perigosa. Afinal, uma extrapolação dessa situação se dá quando o sujeito da ação simula ser o alvo da inveja. A perigosa negação da própria natureza assim como a ignorância podem fazer o indivíduo sentir-se inferior por não ter recebido as mesmas oportunidades de alguém considerado inferior. Não se iluda, o mundo não é justo. Não existe oportunidades para todos. Os mais preparados vencem. Infelizmente ainda ser bonito ou ter carro dá vantagem.

     Não existe inveja "branca".


25 de outubro de 2011

Tu és teu próprio deus.

     

     Dizem por aí que o cérebro humano foi feito para acreditar em algo. Mas também dizem que usamos apenas dez porcento de nossa capacidade mental. Isso significa que temos uma capacidade inerte de dobrar a realidade e transportar uma grande quantidade de terra proveniente de um acidente geográfico para uma localização alternativa, vulgarmente falando, temos um cérebro feito para a fé que usamos apenas uma pequena parte. Ou tudo isso é pura falação sem fundamento.

     O que mais me agrada no tal método científico é a ideia de que qualquer experimento pode e deve ser reproduzido em outros lugares aos olhos de outros. E o resultado precisa ser o mesmo. Se não for o mesmo, deve-se reler os papéis, recalcular as variáveis e descobrir de quem foi o erro. Muitas vezes é falta de café. Ou excesso. 

     Toda e qualquer experiência religiosa é pessoal. Assim como experiências com substâncias psicotrópicas. Ou distúrbios. Nada impede que os trate como sua religião. Apenas poupe o mundo deste proselitismo exacerbado. Ou seja, apenas você está certo. Um egocentrismo e culto ignorante ao clero (e à própria ignorância) não nos leva a um mundo menos intolerante. Pelo contrário.

     Eu gosto de me sentir errado. Afinal assim procuro entender o que está acontecendo e, baseado nos argumentos levantados, corrigir o que está faltando. Diferente do que acontece quando a pessoa se considera imagem e/ou semelhante a sua divindade. Divindade esta que procura agradar com as mais diferentes formas possíveis de agradar uma divindade. Afinal é o que ela(s) quer(em). Toda divindade é hedonista e insaciável. Precisa de sacrifício atrás de sacrifício. Umas até entregaram parentes. Umas pedem a vida de filhos.

     Temos medo do desconhecido. O medo é essa sensação de que podemos esperar qualquer coisa, de preferência, ruim. Precisamos nos defender de alguma forma. Nem que seja com aquele pai-de-todos que está em um plano alternativo e nos mantém em observação eterna. Conheço muitas pessoas que tiveram péssimas experiências com seus pais terrenos [sic] e descontam sua ira no pai celestial [sic]. Ou seja, transforma o universo em uma espécie de assembléia onde tudo foi criado para apenas agradar um único ser infeliz que não consegue modificar essa situação pois precisa frequentemente ser lembrado que é o mais poderoso ou adorado deste lugar que ele mesmo criou. Quer dizer.

     Por definição chegamos a conclusão que nossa divindade é inferior ao nosso querer. O que realmente fazemos é oferendas que acreditamos que deixarão nossos deuses alegres. Tudo é simbólico. Tudo é para nós. Logo, somos nossos próprios deuses. O prazer e a satisfação precisa ser nossa. Temos em nossos corações os tronos, catedrais e cultos ao nosso ser. Apenas disfarçamos isso colocando outros nomes quando exteriorizamos. Proponho uma campanha onde cada um de nós assumimos isso.


Set é parceiro.
     Acho válido que mantenhamos nossa cultura viva, inclusive manifestações religiosas, mas com a consciência de que isso não é mais a verdade. Assim como no Rio Grande do Sul mantém-se casas de cultura, chamadas CTG (Centro Tradicionalista Gaúcho). Quem vai em um lugar desse sabe que é um mundo paralelo que cultua o passado. Quem não vai tem o respeito que aquilo já fez parte de nosso povo mas que hoje em dia não é mais tão importante. Religião, assim como mitologia, explica como a humanidade evoluiu o pensamento. Assim como a história da mitologia egípcia explica bem como eram estruturados. A história do deus Set, por exemplo, conta de um período delicado entre os reinos. Após a derrota, foi demonizado, assim como tudo que é inimigo da classe dominante. Permanecer nessa ignorância, é viver em uma época que não soube aprender com o passado e por isso é fadada a encerrar as suas atividades.

     Deus, se existir, provavelmente ficaria grato se deixarem de usar o nome dele para justificar suas fixações. Eu ficaria. Ou eu-deus ficaria.


24 de outubro de 2011

Tenho o direito de ser preconceituoso.


     Há quem diga que preconceito é ruim. Mas toda nossa psicologia evoluiu de tal forma que não podemos descartar aquilo que o indivíduo sabe para poder ensiná-lo. Ou até para descobrir os motivos pelos quais não lida bem com a sexualidade dos outros. Não há o que justifique um comportamento primitivo. Podemos até explicar e entender sua origem e objetivo. Nosso cérebro é uma máquina de reconhecer padrões e organizá-los conforme características semelhantes. Mas não podemos tornar justo uma ação digna da idade da pedra. Preconceito apenas é válido quando ocupa lugar do conceito que ainda está para ser definido.

Tudo junto e misturado.
     Presencio diversos comportamentos inadequados ao dia. Afinal, a faixa de idade de meus alunos ainda é da fase adequação ao meio social. Em parte se ignora algumas ações pelo chamado "conjunto da obra". Em outros momentos é necessário parar tudo e explicar o motivo pelo qual um colega não é incapaz ou precisa ser infeliz por ser diferente.

     Outro dia eu estava trabalhando com figuras geométricas em um papel marrom que consigo gratuitamente na escola. Usava uma caneta colorida hidrocor. Como errei o papel e acabei fazendo um risco na mão que segurava o papel, resolvi terminar a arte com uma carinha feliz. Um aluno, afrodescendente, pediu-me que eu fizesse o mesmo em sua mão. Obviamente, apesar de ter feito os traços, nenhum deles resistiu ao tom de pele deste. Mas ele não ficou triste, afinal um rosto sorrindo em sua mão ficou. Transcrevo agora um curto diálogo que sucedeu este fato:

Garoto T: que pena, nem ficou o desenho.
Garota H: que isso, cara, deixa de ser preconceituoso, pobrezinho do guri.


     Nisso percebemos muitos conceitos que precisam ser trabalhados nessas crianças. Afinal, talvez nem exista intenção de ofender na fala de T. Mas, por conhecer H, saber de parte do que já passou, ela não estava querendo ofender meu aluno afrodescendente. Ela estava defendendo uma família (a dela) que sofreu muito por serem descendentes dos poucos escravos que existiram na região. Ela estava tentando protegê-lo e, para os olhos dos adultos, foi preconceituosa. Afinal, o que é mesmo isso? Foi certa esta atitude?


     Preconceito é um direito. Assim como a pessoa tem o direito de ser ignorante. O que não pode ser aceito é a intolerância. Apesar da pessoa ter seu coração duro perante aos fatos do mundo ela não pode agir de forma a ignorar nossos deveres como sociedade. Não é para isso que estamos todos aqui? E não é como "introdução ao meio social" que existe a escola? Difícil é para alguém com cardioesclerose ser flexível o suficiente para absorver novas informações e rever seus conceitos. Mas se não quer ser, não é obrigado. Só não haja como se estivesse certo.



23 de outubro de 2011

Eu deveria ter feito belas artes.

 
     Como já devem ter percebido, ou talvez leram em algum lugar, eu sou um cara das exatas. Mais precisamente matemática. Isso mesmo. Nada de diversas interpretações, subjetivismo, orações subordinadas adversativas, perscrutar os níveis de felicidade humana ou entender o motivo pelo qual perspectiva é tão importante símbolo renascentista. Ou até se determinada situação é legal ou apenas legal. Isso em momento algum impede que eu faça comentários sobre a vida, o universo e tudo mais e não necessariamente gere apenas um número.


Auto-retrato
     Um fato que me entristece grandemente é que durante o ensino fundamental tive péssimos professores de artes. Só vim descobrir o que era artes quando já era tarde demais. Não sou contra aos desenhos livres com cores primárias mas, infelizmente, foi o que fiz durante uns três anos. Não houve geometria, brincar com régua e compasso, história da arte, mostra de artes ou semelhantes. E isso eu entendo cada vez melhor. Afinal, assim como ensino religioso, apesar de carregar esse nome funesto, é carregado por pessoas despreparadas.


Sempre escolhi o bulbassauro
     Não sou contra a meritocracia. Aliás, há poucas coisas as quais sou contra. Meus problemas sempre são com outras duas coisas: onde é o limite e quem irá julgar. Por exemplo, durante uma apresentação de trabalho sobre psicopatia, assunto levantado por uma acadêmica das ciências naturais biológicas, ela dizia formas sobre identificar um psicopata. E eu fiquei preocupado pois muitas atitudes consideradas naturais podem indicar, quando bem analisadas, traços de psicopatia. Seria muito bom ter professores sendo avaliados e melhorando de condição conforme melhoram suas práticas mas quem julga isso geralmente é psicopata. Logo, não há como tornar isto real hoje.


A nave em que viajei na minha infância
     Ao longo deste texto há desenhos meus que fiz atrás de um "espelho", um documento da escola onde trabalho que me avisa quando foi que trabalhei. Após encerrar este processo, tratei de dar utilidade para a parte em branco das folhas. Mas não se preocupem, é apenas uma cópia. O espelho original está bem guardado na sala da supervisão escolar. Nunca faria uma coisa dessas em um documento... Quer dizer.


22 de outubro de 2011

Vim com defeito, e agora?


       O estado, por lei, deve dispor das formas e recursos de tratamento de pessoas com deficiências diversas. Mas essa ajuda não vem. Este sistema onde a iniciativa privada pode gerir algum sistema paralelo é fundamentado na possibilidade do estado não precisar fazer algo. Afinal se for realmente importante, alguma ONG faz. Nisso se justifica enviar dinheiro para estas organizações. E umas fazem realmente o que propõem. Outras apenas engordam contas bancárias.

     Hoje foi dia de Teleton. Dia de exaltar uma instituição privada de serviço público de cunho filantrópico. Apareceram várias pessoas da mídia doando e também pessoas se promovendo. Como em todos os eventos dessa natureza serpre existirá. E isso não é ruim. Afinal, por causa dessa auto promoção muita gente se anima e, ao acreditar na sinceridade dos outros, age como se também não fosse se promover.
    
     O governo acaba por oferecer um dinheiro ou construir uma parte de algum hospital justificando o gasto associando atrelando (sempre quis escrever isso) o segmento ao calamitoso SUS. O que me incomoda muito nessa situação é que isso parece cobrança de imposto direto. Não que ache errado doar. Mas em um mundo ideal não seria necessário. Mas mundo ideal talvez nem exista. Ou realmente é necessário que alguém seja figuração neste mundo? Isso tudo sem falar em pedágios que condicionam meu direito de ir e vir com a quantidade de dinheiro que eu tenha.




     As pessoas que mais gostei de conhecer foram as defeituosas. Não só as que faziam piada com suas próprias incapacidades, pois isso é apenas repetir o que deve ter ouvido durante anos. Não aquelas que endureceram o coração ao submeter-se ao cruel mundo. As mais interessantes tinham suas deficiências e não escreviam livros de auto-ajuda. Não que escrever auto-ajuda possa estragar qualquer condição da pessoa passar a ser agradável. Mas não é necessário. As mais interessantes sabem que, o que faz uma bola de boliche mais importante que uma esfera perfeita, é a possibilidade de tornar-se útil quando bem orientada. Assim como qualquer pessoa.

     Posso parecer sem coração (coisa que já me disseram mas é absurdo, afinal meu sangue é bombeado naturalmente e se as pessoas referiam-se ao conjunto de meios aos quais meu cérebro processa hormônios e impulsos de nível emocional, creio que não falariam em coração) mas, assim como utilizar-se de apelos para que se recolha mais dinheiro para aumentar a capacidade de alguma instituição é certo. Quem não teria doado por racionalizar a situação se dobra ao apelo. Quem não se dobra ao apelo precisa rever seus mecanismos de sobrevivência. Ou dá um valor demasiado ao dinheiro. E realmente concorda que este deva mesmo ditar onde você pode ir ou vir.

21 de outubro de 2011

We need education.

 
     Hoje percebi que seria um bom professor de ensino superior. Afinal, meu método pedagógico "te vira" é perfeito para esse período da vida onde a pessoa procura o assunto pois quer ser melhor. Acabaram-se as competições bobas de quem copia primeiro ou quem fica mais tempo calado. Agora se não aprender aquele assunto no mesmo tempo que os outros, luta para conseguir ao invés de chorar e atrapalhar os outros. Se bem que eu faço isso sempre que sou contrariado. Mas isso é outra coisa.


Transformada, querida.
Sempre errei as plaquinhas.
     Em uma aula que tive praticamente em outra vida, entendi o motivo pelo qual auto-ajuda faz tanto sucesso. Muitos conceitos, independente da área do conhecimento, exigem uma fé de mover montes. Sempre há o lado belo da Gestalt, assim como há transformadas de Laplace. Da teoria morfológica até o mercado. Toda área do conhecimento é sustentada por alguma matemática. Ora duas casas decimais é muito. Ora é pouco.


Tome anfetaminas, diga que é café.
     O que acho um tanto triste é que muitas coisas acabam sendo entendidas após os períodos de teste. Ou depois de alguns momentos de reflexão. Erdős estava certo em se dopar. Não há coisa mais estranha de se encarar sóbrio do que a comunidade científica. E se mesmo depois de passar em um teste obscuro, não compreender do que se tratava, pode muito bem fazer parte de uma comunidade científica dopada e obscura. É o que temos.


y u no need education?
     Ser professor, como já disse, é prezar pela forma e pelos meios de ensino. É quem sustenta os objetivos da brincadeira. Por mais que pareça fácil, não é. Mas se não houver maturidade, é facilmente deformado pela opinião pública. Quando se vê o dia-a-dia, da responsabilidade familiar transferida, da impossibilidade da incompatibilidade moral se percebe que é uma nobre missão. Uma nobre missão. Mal organizada mas nobre. Uma espécie de novo rico das profissões.


     El maestro na maior parte das vezes, sabe aquilo tudo. Todos apenas querem ser amados. Procure se informar mais, procure tratar melhor todos os seus. Considere a possibilidade de que as pessoas ao seu redor estarem fazendo o que podem para ser feliz. Afinal, felicidade realmente é questão de percepção e subjetiva. Mas as oportunidades para que essa percepção seja afinada é através de um pensamento ampliado pela educação. Que, diferente do que Roger Waters escreveu, nós precisamos de educação. Só ela salva.


Transformada.