22 de outubro de 2011

Vim com defeito, e agora?


       O estado, por lei, deve dispor das formas e recursos de tratamento de pessoas com deficiências diversas. Mas essa ajuda não vem. Este sistema onde a iniciativa privada pode gerir algum sistema paralelo é fundamentado na possibilidade do estado não precisar fazer algo. Afinal se for realmente importante, alguma ONG faz. Nisso se justifica enviar dinheiro para estas organizações. E umas fazem realmente o que propõem. Outras apenas engordam contas bancárias.

     Hoje foi dia de Teleton. Dia de exaltar uma instituição privada de serviço público de cunho filantrópico. Apareceram várias pessoas da mídia doando e também pessoas se promovendo. Como em todos os eventos dessa natureza serpre existirá. E isso não é ruim. Afinal, por causa dessa auto promoção muita gente se anima e, ao acreditar na sinceridade dos outros, age como se também não fosse se promover.
    
     O governo acaba por oferecer um dinheiro ou construir uma parte de algum hospital justificando o gasto associando atrelando (sempre quis escrever isso) o segmento ao calamitoso SUS. O que me incomoda muito nessa situação é que isso parece cobrança de imposto direto. Não que ache errado doar. Mas em um mundo ideal não seria necessário. Mas mundo ideal talvez nem exista. Ou realmente é necessário que alguém seja figuração neste mundo? Isso tudo sem falar em pedágios que condicionam meu direito de ir e vir com a quantidade de dinheiro que eu tenha.




     As pessoas que mais gostei de conhecer foram as defeituosas. Não só as que faziam piada com suas próprias incapacidades, pois isso é apenas repetir o que deve ter ouvido durante anos. Não aquelas que endureceram o coração ao submeter-se ao cruel mundo. As mais interessantes tinham suas deficiências e não escreviam livros de auto-ajuda. Não que escrever auto-ajuda possa estragar qualquer condição da pessoa passar a ser agradável. Mas não é necessário. As mais interessantes sabem que, o que faz uma bola de boliche mais importante que uma esfera perfeita, é a possibilidade de tornar-se útil quando bem orientada. Assim como qualquer pessoa.

     Posso parecer sem coração (coisa que já me disseram mas é absurdo, afinal meu sangue é bombeado naturalmente e se as pessoas referiam-se ao conjunto de meios aos quais meu cérebro processa hormônios e impulsos de nível emocional, creio que não falariam em coração) mas, assim como utilizar-se de apelos para que se recolha mais dinheiro para aumentar a capacidade de alguma instituição é certo. Quem não teria doado por racionalizar a situação se dobra ao apelo. Quem não se dobra ao apelo precisa rever seus mecanismos de sobrevivência. Ou dá um valor demasiado ao dinheiro. E realmente concorda que este deva mesmo ditar onde você pode ir ou vir.

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