17 de outubro de 2011

Padrão da transferência de mágoa.


     Como devem ter percebido, ou não, sou professor de matemática em uma escola de ensino fundamental. Além do currículo regular, dou uma ajuda em um turno oposto para quem tem mais dificuldade. Não é questão apenas de dúvidas referentes ao assunto. Grande parte de meus alunos tem dificuldade de aprender. E parte disso deve-se ao ambiente pouco saudável de convivência.

A cópia não é necessariamente ruim.
Algumas até nadam.
     A nossa capacidade de reprodução de padrões é impressionante. Costumo ver as pessoas como grandes esponjas que absorvem o que as rodeiam e acabam por tornar os lugares onde passam mais parecidos com elas mesmas. Diferente do que disse Joseph Campbell, não era o caminho que encontrávamos do lado de fora que ressoava com o que havia dentro. O que havia dentro modificava o que estava fora.

        Com isso, chegamos no ponto que queria. Um aluno meu, afrodescendente, de pequeno porte, sofria abuso emocional ao ser tratado como se possuísse algum retardo mental, era injuriado e desmerecido seus feitos por ser, conforme palavras dos colegas, "preto" ou "pequeno". Uma ou outra vez o peguei chorando. A orientadora escolar tentou trabalhar com ele alguns desses pontos mas não creio que tenha tido algum sucesso.

     Por ter dificuldades de aprendizado, veio a ter aulas em turno oposto comigo. O que me impressionou foi que presenciei este indivíduo, no segundo dia de aula paralela,  tratando uma outra aluna, caucasiana e menor em altura que o rapaz, da mesma forma que era tratado. Simples e cristalina reprodução.

     Estamos formando uma nação de copistas. Afinal depois de 2012 precisaremos de muitos. Mas não só copistas dos clássicos, como eram os monges medievais, mas copistas de comportamentos reprováveis. Garanto que esta atitude deste menino foi sua válvula de escape para toda a tensão que era submetido por esses anos. Me pergunto com quem mais ele se comporta dessa forma. Infelizmente é assim. Crianças imitam e refletem tudo o que têm ao seu redor. Depois de uma certa idade, o Superego passa a limitar um pouco essas atitudes, mas o que as originou permanece.

Alguém começou com a "brincadeira".
     Infelizmente, por serem cópias das cópias, o que reproduzem acaba por ser um comportamento primitivo. Diferente do ideal. Infelizmente alguém começou com isso e ninguém se dispõe a ser o último.


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