24 de outubro de 2011

Tenho o direito de ser preconceituoso.


     Há quem diga que preconceito é ruim. Mas toda nossa psicologia evoluiu de tal forma que não podemos descartar aquilo que o indivíduo sabe para poder ensiná-lo. Ou até para descobrir os motivos pelos quais não lida bem com a sexualidade dos outros. Não há o que justifique um comportamento primitivo. Podemos até explicar e entender sua origem e objetivo. Nosso cérebro é uma máquina de reconhecer padrões e organizá-los conforme características semelhantes. Mas não podemos tornar justo uma ação digna da idade da pedra. Preconceito apenas é válido quando ocupa lugar do conceito que ainda está para ser definido.

Tudo junto e misturado.
     Presencio diversos comportamentos inadequados ao dia. Afinal, a faixa de idade de meus alunos ainda é da fase adequação ao meio social. Em parte se ignora algumas ações pelo chamado "conjunto da obra". Em outros momentos é necessário parar tudo e explicar o motivo pelo qual um colega não é incapaz ou precisa ser infeliz por ser diferente.

     Outro dia eu estava trabalhando com figuras geométricas em um papel marrom que consigo gratuitamente na escola. Usava uma caneta colorida hidrocor. Como errei o papel e acabei fazendo um risco na mão que segurava o papel, resolvi terminar a arte com uma carinha feliz. Um aluno, afrodescendente, pediu-me que eu fizesse o mesmo em sua mão. Obviamente, apesar de ter feito os traços, nenhum deles resistiu ao tom de pele deste. Mas ele não ficou triste, afinal um rosto sorrindo em sua mão ficou. Transcrevo agora um curto diálogo que sucedeu este fato:

Garoto T: que pena, nem ficou o desenho.
Garota H: que isso, cara, deixa de ser preconceituoso, pobrezinho do guri.


     Nisso percebemos muitos conceitos que precisam ser trabalhados nessas crianças. Afinal, talvez nem exista intenção de ofender na fala de T. Mas, por conhecer H, saber de parte do que já passou, ela não estava querendo ofender meu aluno afrodescendente. Ela estava defendendo uma família (a dela) que sofreu muito por serem descendentes dos poucos escravos que existiram na região. Ela estava tentando protegê-lo e, para os olhos dos adultos, foi preconceituosa. Afinal, o que é mesmo isso? Foi certa esta atitude?


     Preconceito é um direito. Assim como a pessoa tem o direito de ser ignorante. O que não pode ser aceito é a intolerância. Apesar da pessoa ter seu coração duro perante aos fatos do mundo ela não pode agir de forma a ignorar nossos deveres como sociedade. Não é para isso que estamos todos aqui? E não é como "introdução ao meio social" que existe a escola? Difícil é para alguém com cardioesclerose ser flexível o suficiente para absorver novas informações e rever seus conceitos. Mas se não quer ser, não é obrigado. Só não haja como se estivesse certo.



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